O último ano tem-nos trazido sucessivos desafios do ponto de vista individual e relacional. As relações de casal, em especial, estão sujeitas a vários fatores de stresse que se apresentam como grandes provas ao seu funcionamento adaptativo, e que se apresentam como potenciadores de dificuldades e crises de interação.
Para mencionar alguns desses fatores de stresse externo, podemos nomear o incremento de tempo que passam juntos em confinamento, o teletrabalho de um ou de ambos os parceiros, as questões de parentalidade com crianças em casa e/ou em estudo online, a redução do rendimento familiar, o isolamento social, a doença e o medo da contaminação... Sobre estes fatores externos pesam ainda as suas consequências psicológicas, ansiedade, medo, isolamento social, angústia, frustração, incerteza, sensação de perda de controlo… que podem afetar severamente a comunicação, o envolvimento emocional e os padrões de funcionamento do casal. Cada um dos parceiros poderá estar menos atento às necessidades do outro, tornando-se menos responsivo, lidando com as situações com maior agressividade, ou retirando a sua atenção e isolando-se.
A situação externa de stresse exerce um impacto muito forte sobre as relações, mas é a forma como cada casal vai lidar com a situação que vai determinar o resultado; se a relação se deteriora ou se se reforça.
Se o casal compreende como a situação pode afetar a o seu comportamento e o do outro, se as interações forem adaptativas, se mantiverem uma atitude positiva, orientada para encontrar novas soluções para os problemas, sem culpabilizações e com confiança, então a relação poderá sair desta crise mais forte, com relações mais conectadas e maior cumplicidade.
O que pode fazer para superar os impactos da Pandemia sobre a sua relação de casal:
1. Evitar a escalada das discussões
Quando uma discussão se forma, as emoções acentuam-se e o comportamento torna-se impulsivo, são ditas coisas irrefletidas no calor do momento e que não podem ser desditas. Para evitar este acréscimo de stresse, tome a iniciativa de parar a discussão. Retire-se da discussão. Atenção! Retirar-se da discussão não significa deixar de responder (vai ser interpretado como amuar) ou sair porta fora. Ninguém gosta de sentir que está a ser ignorado! O que deve fazer é dizer ao seu parceiro: “Estamos ambos muito zangados, neste momento, proponho que voltemos a falar sobre este assunto mais tarde, quando estivermos mais calmos e capazes de encontrar uma solução eficaz”.
Distraiam-se com outra atividade, usem o tempo que for necessário para retomar emoções mais equilibradas. Procure o motivo da sua raiva, o que é que verdadeiramente o/a deixou tão perturbado/a? Procure a causa em si e não no comportamento ou na personalidade do outro. Porque é que tal comportamento o/a afeta tanto a si? Explore as suas emoções e procure também compreender a posição do outro.
Quando ambos estiverem calmos, capazes de usar um tom isento de crítica, explorem os vossos insights, as vossas perspetivas refletidas.
Esta partilha de emoções, com distância temporal, vai permitir uma compreensão diferente da situação e facilitar a busca de novas soluções que podem criar resultados diferentes no futuro.
2. Promover o envolvimento emocional
Se há pessoas que quando se sentem ameaçadas partem para a luta ou o ataque, para a crítica mais ou menos agressiva e envolvem-se em discussão, também há pessoas que fogem, que se isolam, que se afastam, para lidar com a sua dor. (Também há pessoas que alternam estes dois tipos de comportamento).
Se este é o seu caso, lembre-se de que ambos estão no mesmo barco e que precisam de remar para o mesmo lado para manterem a estabilidade da embarcação. Isto significa que precisa de se envolver na comunicação com o seu par, expor as suas emoções, aquilo que o/a magoa, falar das suas necessidades, mostrar as suas vulnerabilidades e descobrir as necessidades do seu par.
3. Planear as vossas atividades diárias
Com uma partilha emocional mais eficaz, a comunicação torna-se mais objetiva; abre-se o caminho para a busca de soluções mais adaptadas às necessidades familiares.
Neste espírito de procurar soluções eficazes, podem funcionar como uma equipa e distribuir as atividades profissionais, domésticas, parentais e de lazer de acordo com as necessidades, preferências e interesses de cada um.
Falar com o seu par sobre as dificuldades, de forma serena, aberta e transparente, sem culpabilizações, sem ironia, sem manipulação, permite encontrar soluções em equipa que podem facilitar o vosso quotidiano, mas também fortalecer os vossos laços e a vossa cumplicidade.
Acreditem na vossa capacidade de ultrapassar as dificuldades, afinal já passaram por outras situações difíceis com sucesso, recuperem as competências que usaram antes. Valorizem as vossas vitórias e o contributo do outro sempre que superarem uma dificuldade ou ultrapassarem um dia difícil.
E se a situação se complicar, e se tornar complexo aplicar o processo, é sempre possível pedir ajuda.
Pedir ajuda não é um sinal de fraqueza, pelo contrário, é sinal de inteligência e de coragem para enfrentar os nossos medos e mostrar a nossa vulnerabilidade.
Quais são as suas maiores dificuldades e como as tem conseguido ultrapassar?
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