Como Regular Emoções Fortes
- Ana Pimentel
- há 7 dias
- 4 min de leitura
Quando sente raiva, ansiedade ou tristeza, pode ter a impressão de que está a ter uma reação automática ao que está a viver, o que dificulta a sua regulação emocional, mas será mesmo assim?
A neurocientista Lisa Feldman Barrett afirma que as emoções não são respostas inatas e universais. Na verdade, as emoções são construídas pelo seu cérebro, com base em previsões que faz constantemente.
Este conhecimento tem implicações práticas; significa que você pode aprender a regular emoções fortes, não através do controlo ou repressão, mas através da forma como interpreta o que está a sentir.

O que são emoções, afinal?
Segundo Barrett, o cérebro é um órgão preditivo. Ele não espera que algo aconteça para reagir. Em vez disso, prevê o que vai acontecer a seguir com base nas suas experiências anteriores — e prepara o corpo para agir em conformidade. Essas preparações físicas (como tensão muscular, batimentos acelerados, respiração alterada) são aquilo que você sente como “emoção”. Mas a emoção só se forma quando o seu cérebro atribui um significado a essas sensações.
As emoções não acontecem a si. Elas são construídas por si, mesmo que sem dar por isso.
O seu cérebro não está simplesmente a reagir ao mundo — está constantemente a antecipar o que poderá acontecer e a preparar o corpo para lidar com isso. A forma como interpreta essas sensações físicas é aquilo que determina a emoção que sente — e a forma como age.
Um exemplo concreto:
Imagine que está prestes a falar em público. Sente o coração a bater mais rápido, a respiração a ficar curta e alguma agitação interior.
Pode interpretar estas sensações como ansiedade (“medo de falhar, vão julgar-me”).
Mas também pode interpretá-las como energia para a ação, entusiasmo (“estou prestes a partilhar algo importante”).
A sensação física é a mesma — o que muda é o significado que atribui àquilo que sente.
Porque é que isto é importante?
Se as emoções não são reações automáticas, mas sim interpretações baseadas em previsões, então:
Você pode aprender a reformular a forma como interpreta aquilo que sente.
Pode ganhar mais controlo sobre como reage.
E pode deixar de ser “vítima” das emoções intensas, e da sua impossibilidade de fazer alguma coisa, treinado novas competências de regular as suas emoções de forma mais consciente.
Como regular emoções fortes na prática
1. Lembre-se: o seu cérebro está sempre a prever
Antes de qualquer sensação consciente, o seu cérebro está a prever o que poderá acontecer, com base em experiências anteriores. Essas previsões são rápidas, automáticas e quase sempre inconscientes — mas influenciam imediatamente o corpo.
Exemplos
Se vê um carro a avançar na sua direção o seu cérebro prevê o acidente e prepara-se para fugir.
Se teve más experiências em apresentações, o seu cérebro vai antecipar stress antes de iniciar a palestra e vai preparar o corpo para lidar com uma ameaça.
É aqui que a emoção começa — não no que sente, mas no que o seu cérebro espera que venha a acontecer.
2. O seu corpo reage a essa previsão
Com base nessa antecipação, o cérebro ativa o corpo para agir:
o coração pode acelerar,
os músculos ficam tensos,
a respiração altera-se,
sente-se inquieto ou tenso.
Estas respostas são físicas — o corpo está a preparar-se para lutar, fugir, focar-se, proteger-se...
3. Você toma consciência da sensação corporal
Só depois é que começa a sentir o que está a acontecer no seu corpo. Esse momento em que se apercebe do que sente — como um aperto no peito ou um nó no estômago — é o ponto de viragem.
O cérebro vai agora tentar dar sentido a essas sensações, com base no que já viveu: é ansiedade, é medo, é entusiasmo...
4. Questione o significado que está a atribuir
É aqui que pode começar a intervir. O seu cérebro quer rotular o que está a sentir — e normalmente usa os rótulos mais habituais (ex: ansiedade, raiva, vergonha). Mas pode parar e perguntar:
“Tenho a certeza de que isto é medo?” “Poderia ser entusiasmo, alerta ou foco?” “Estou a interpretar com base em quê: no presente ou no passado?”
Exemplo prático:
Vai entrar numa entrevista e sente o corpo a reagir.
Interpretação habitual: “Estou ansioso/a.”
Interpretação alternativa: “O meu corpo está a ativar-se para me ajudar a dar o meu melhor.”
Esta reformulação muda a emoção — e muda a forma como vai agir.
5. Alimente o cérebro com novas experiências
Se quer construir emoções diferentes, precisa de dar ao cérebro mais ferramentas. O cérebro constrói emoções com base no que conhece — logo, quanto mais variadas forem as suas experiências e o seu “vocabulário emocional”, mais opções tem para interpretar o que sente.
O que pode fazer:
Aprender novas palavras para descrever emoções.
Observar como outras pessoas lidam com situações difíceis.
Ler, ouvir, conversar sobre emoções de forma aberta.
Experimentar respostas diferentes — e reparar no que muda.
Um exemplo do dia a dia
Situação: O seu filho atira um copo ao chão no meio do jantar.
Sensações: Tensão nos ombros, respiração acelerada, vontade de gritar.
Interpretação automática: Raiva – “Ele está a desrespeitar-me."
Reação Automática: Grita com ele e dá-lhe um castigo
Nova interpretação possível: Estou cansado/a e impaciente – “Ele está cansado e a testar limites.
Reação possível: Respira fundo, responde com firmeza, mas sem agressividade.
Conclusão
As emoções não são inimigas. Também não são verdades absolutas. São respostas construídas pelo cérebro, com base nas experiências, memórias e expectativas que acumulou ao longo da vida, com o objetivo de preparar o corpo para lidar com as situações e produzir uma resposta/comportamento eficaz.
Ao compreender isso, você ganha uma ferramenta poderosa: a capacidade de interpretar de forma mais consciente o que sente — e de reagir com mais liberdade e responsabilidade.
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