Já pensou como é que a sua relação passou daquele estado de graça inicial para a situação atual? Para onde foi aquele prazer em ficar a conversar sem dar conta que o tempo passa, onde raramente faltava assunto, onde até os silêncios eram significativos?
À medida que o tempo passa, o foco da nossa atenção desvia-se da relação, que consideramos segura, para o trabalho, para os filhos, para a gestão da casa, para as nossas relações sociais…e, de repente, a nossa relação de casal já não é assim tão segura! Quando precisamos do apoio do outro, de repente ele já não está tão disponível, já está ele próprio envolvido com os seus próprios problemas! Começamos a duvidar se somos amados, se ainda somos importantes para o outro! E nessa altura, o que é que nós fazemos? Como reagimos?
Benvindo/a ao mundo dos estilos de vinculação.
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Cada um de nós usa um modelo específico de conexão a outro significativo. Quando entramos num estado de tensão na relação, cada um de nós tende a reagir de uma determinada forma, que é a forma que aprendemos na nossa infância, e nas nossas relações anteriores.
Qual é o seu estilo de vinculação?
Compreender o seu estilo de vinculação ou de conexão é o primeiro passo para compreender as suas necessidades e como elas se relacionam com o comportamento e com as necessidades do seu par, para construir um relacionamento seguro. Cada estilo tem necessidades específicas e usa estratégias diferentes para lidar com os seus medos e com a tensão na relação.
Quando as coisas ficam difíceis e o seu sistema de conexão é ativado, você é aquele que se agarra e puxa ou aquele foge e empurra?
Existem 4 estilos de conexão ou vinculação, que se baseiam em 2 dimensões: ansiedade e evitamento.
1. Estilo Seguro
Pessoas Seguras têm baixos níveis de ansiedade e de evitamento, são capazes e têm vontade de exprimir abertamente as suas emoções positivas e negativas, o que implica terem elevado desenvolvimento emocional. São capazes de pedir apoio e suporte ao seu par quando estão stressados e estão disponíveis para dar conforto e apoio ao seu par quando ele tem necessidade. Quando não compreendem a atitude do par são capazes de lhe dar o benefício da dúvida em vez de deduzirem algum motivo menos positivo. Parece simples e fácil, certo?
2. Estilo de Desapego
Apresento-vos o/a “Independente”. São pessoas com baixos níveis de ansiedade e, claro, elevados níveis de evitamento, que, frequentemente, têm dificuldade de assumir o compromisso da relação. Tendem a focar-se muito em atividades profissionais, sociais, ou outras, como forma de evitar o envolvimento emocional com o outro. Tentam “desligar” o sistema de conexão e suprimir as necessidades de apego, criando barreiras de defesa, para evitarem a possibilidade de se magoarem. Sentem alguma inadequação e medo de não estar à altura e, por isso, receiam ser rejeitados. Todos nós conhecemos alguém que diz que não precisa de um parceiro para ser feliz ou que está melhor sozinho!
3. Estilo de Desapego Receoso
Este é o/a “Toca e Foge”. Pessoas com elevados níveis de ansiedade e de evitamento. Procuram proximidade e conexão e depois afastam-se quando o apoio lhes é oferecido porque têm dificuldade em acreditar que o par os possa amar e, consequentemente, receiam ser rejeitados. Acreditam simultaneamente que não merecem o amor do outro e que o outro não é merecedor do seu amor porque o mais certo é vir a desapontá-lo e magoá-lo, contudo, têm muito medo de o perder e são muito dependentes. O outro é simultaneamente a causa e a solução para os seus medos.
4. Estilo de Apego Ansioso
Finalmente, apresento-vos o/a “Inquieto/a”. Pessoas com Apego Ansioso ou Preocupado têm elevados níveis de ansiedade e baixos níveis de evitamento. São pessoas com uma necessidade intensa de apoio e de afetos do par. Quando sentem que a conexão está ameaçada o seu sistema de apego é hiperativado e escala para comportamentos de protestos, queixas e exigências, como formas de puxar ou reclamar a atenção do outro. Usam a critica agressiva e o ataque como uma tentativa de reduzir a distância que sentem na relação, o que, normalmente, leva o outro a afastar-se ainda mais. São vigilantes e estão sempre prontos para interpretar qualquer comportamento do outro como uma ameaça.
No início deste blog perguntava eu “para onde foi aquele estado de graça do início da relação?” Pois agora já sabe, o estado de graça ainda lá está, está apenas submerso nos nossos medos: medo de rejeição, medo de não ser amados, medo de não sermos importantes para o outro, medo de não sermos suficientes, medo de ficar sozinhos …porque o amor é essencial para todos nós e todas as crises das relações vêm do medo de não estar lá ninguém para nós quando precisarmos.
Aquilo que é surpreendente, e observável diariamente na terapia, é a dificuldade que ambos os membros do casal têm em reconhecer que, apesar dos seus estilos diferentes, no essencial, ambos têm exatamente os mesmos receios, apenas formas diferentes de lidar com a situação.
E você, consegue identificar o seu estilo de vinculação? E o do seu(sua) parceiro/a?
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